1. |
O Iluminado das Selvas
05:10
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(Thiago Thiago de Mello/ Edu Kneip)
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Pelo Xingu
Nas águas que escondem a surucucu
Vem dois apapás e um pirarucu
Levando barcaça de flor de bambu
Com uma criança nas sombras da luz
Da imensidão da floresta
Inocente viajante das relvas
Astronauta, o iluminado das selvas
Colateral
Amálgama tétrade sensorial
A gênesis certa da flora coral
Anunciação do menino real
Com dedo na cara apontado por Deus
O vento da última fresta
O arcanjo que devora os demônios
Homem fogo, fiel às palavras de Antônio
E ele cresceu
Entre pândegos de caçadores
Cores do mal
Ele acendeu
Para o mais forte dos reatores
Perpetrando as derrotas dos homens, seus perseguidores
Lenda se faz
Pelos olhos da eternidade
Era uma vez
Pelos murais
Das espécies parindo seus pares
Ele reina pintando as paúras dos reis dos palmares
Quem é ele?
Deus dos Olivares
Mestre dos Alvarez
Máxima de Antares
Basta de clamares
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2. |
Estrela dÁgua
03:33
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(Thiago Thiago de Mello/RenatoFrazão)
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Inhambu piou
Seu pio de agouro
Na capoeira do Andirá
E aluou
Lá no sumidouro
A guerreira cunhatã Naia
Mirou Jacy
No espelho do rio
Estrela do lago
A lua no igarapé
E a maraí
No agouro do pio
Agora flutua,é aguapé
Queria ser estrela
Da grande morada de Jacy
No cairé para acendê-la
No Catiti ter de escondê-la
Muito mais bela do que Guaracy
Virou Naiá
Estrela do lago
Rainha dÁgua
Mumuru
Quem ouve lá
O som aziago
Adivinha a língua nhemgatu
Sonhando foi na beira
Se atirou no rio Curimã
No piçaié roda faceira
Iané-pituna a vida inteira
E ver de perto o raio de Tupã
Todas as lendas
Diz o Pajé
Abrem a senda
Pro que se é
Por isso aprenda
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3. |
Mãe do Rio
04:41
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(Thiago Thiago de Mello)
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Filha de Boiúna
Com Sucuriju
A índia Tikuna
Mana de Norato
É a Boiaçu
Um bicho do mato
Faz alumiar
A cobra de fogo
Não dá desafogo
Quando é o Boitatá
Fera d`água
Mãe do rio
Bicho arredio
Vira embarcação
Monstro faz rastro
Na praia
Vive de tocaia
Pelo beiradão
Dois “óio” de chama
Feito Anguery
A maldosa dama
Cria de Visagem
É a Sucuri
Bem na outra margem
Tem um fogaréu
Navio Encantado
Um ser desalmado
Vermelhando o céu
Fera d`água
Mãe do rio
Bicho arredio
Vira embarcação
Monstro faz rastro
Na praia
Vive de tocaia
Pelo beiradão
Luz que a água não apaga
Escuridão que a terra traga
Embaixo do altar de Maria
Mãe do rio se escondia
Inventando a noite e o dia
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4. |
Não É Água
03:39
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(Thiago Thiago de Mello)
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Mania, paixão ou vício: de sangue ou do coração.
Água limpa destilada, preferência da nação.
Bagaceira, baronesa, birinaite, braba, briba.
Brasileira, azulina, óleo, otim, penicilina.
Quantas mil cabeças te sonham água?
Aquela que abre-bondade, abre-coração.
Água benta, água branca, aguarrás.
Aquela-que-matou-o-guarda, a filha-do-senhor-de-engenho,
Água pé, água pra tudo, teimosia, tira-teima.
Azulzinha, à deriva, a marvada, pindaíba,
orangange, péla-goela, meu consolo todo nela.
Quantas mil cabeças te sonham água?
Água-que-gato-não-bebe, a do ó;
Cem-virtudes, tome-juízo, aguadeiro.
Concentrada, calibrina, caravana, cascavel.
Samba, uca, venenosa, santa, pura, vai pro céu.
Mamadeira, fruta, grogue, engenhoca, elixir.
A que incha, pinga mansa, pitianga, caxixi.
Quantas mil cabeças te sonham água?
Aquela-que-apaga-tristeza, água-bruta
...que-passarinho-não-bebe, aguardente.
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5. |
A Onça
03:04
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(Thiago Thiago de Mello)
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A suçuarana rugiu na ribanceira do rio
Nem acauã fez pio
Na castanheira gente sentiu tanto arrepio
A onça pintada
É uma pessoa encantada
Quando atravessa o caminho
De um caçador que vai sozinho
E erra o tiro quando vai matar
Foi o curupira a gargalhar
A suçuarana sabe a natureza de cor
Dos bichos sente dó
Na sumaúma deixa os inimigos sem cor
A onça pintada
tão temida e venerada
Na imaginação do ribeirinho
E do balador de passarinho
O esturro da fera vai roncar
Tem bicho lá fora a ronronar
Enfeitiçada
Onça-boi
Pele rajada
Caçada foi
Onça cabocla
A onça preta
Mata com a boca
Onça maneta
Sai da caverna
Pula no rio
Fera sem perna
Te desafio
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6. |
Certezas Inacreditáveis
03:11
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(Edu Kneip e Thiago Thiago de Mello)
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Temque acreditar.
Não é lenda, eu vi:
tem no bucho uma boca
o Mapinguari.
Esse assoviar
dá medo sem fim:
na trapaça, de tôca
lá vem Matim.
“Não tem fumo, não!
A cachaça na cuia
‘cê pode levar”.
Quanta confusão
esses seres da mata
me fazem passar!
O tempo fechou,
pronto me perdi.
Curupira, devolva
o meu tipiti!
O boto boiou.
Não tem candiru.
Me encantou doce o canto
do Uirapuru.
Me contou Saci
quando a Mulher de Branco
vem me visitar.
Deixa o sol sair,
e o fantasma de um homem
vem me atazanar.
Bicho na espreita
na margem direita
do rio se estreita
pra me alucinar.
Não foi boiúna,
nem índio Ticuna.
Não foi Tupã,
esse talismã.
Nessa viagem
eu vi a visagem,
avessa à paisagem,
pairando no ar.
Esse segredo
não é arremedo.
Eu juro tão cedo
jamais duvidar do que há!
Noite trovejou.
Fez brotar a fé
quando o Velho Caboclo
puxou meu pé.
Rede desatou.
Foi coisa do cão.
Eu desabo nas águas
da escuridão.
É melhor rezar
para São Benedito
minhas preces ouvir.
Para me salvar,
mas se vivo aflito,
prefiro fugir.
No Eldorado,
destino sagrado,
vi, enluarado,
o Jurupari.
Na correnteza
deixei a certeza
de nunca crer
no que não se vê.
E acreditando
fui relampiando,
me desafiando
a poder enxergar.
Esse segredo
não é arremedo.
Eu juro tão cedo
jamais duvidar do que há!
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7. |
Você Não É Linda
05:35
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(Thiago Thiago de Mello/Thiago Amud)
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Você não é linda
Você é a própria beleza de tudo que existe
Não pode haver isso
Isto que agora é seu colo, é seu rasgo, é seu riso
Você não é isto
Um corpo que agora se move, se joga, se tolhe
Na certa há de ser outra coisa: uma ideia, uma cifra
O anúncio de uma primavera
Primeira corola entreaberta
A fim do orvalho que lhe molhe
Você não existe
Porque se existisse faria uma guerra de Tróia
E o pacificado sertão quedaria coalhado do sangue dos machos
Você aí se evolaria rajando o infinito
E os olhos do mundo arderiam de constelações impossíveis
Não pode haver isso
Isto que agora é seu beijo, é seu medo, é seu visgo
Jamais a beleza cairia na terra
Virando meu tino
Com tal violência
Você, criatura, é um tapa
Uma lapa de desinocência
Que um nume bendito maldito bendito
Verteu sobre mim feito essência
Guardada no último cântaro
E me iniciou neste rito
De ver a beleza de frente
Com olhos de crente
Você quando existe
É lua vermelha é gorjeio de ave alumbrada
É ouro de abelha é leite jorrando de pedra
É ciclo é ninhada
Maré montante do meu sonho
Nó cego, eixo do destino
(Não posso ver isto)
Menina, seu rosto encantado
Se existe, sou eu que inexisto:
Caí na caldeira do Outro
Beijando o coração do Cristo
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8. |
Cantiga Mal Assombrada
03:48
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(Diogo Sili/ Thiago T. de Mello)
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O cricrió
Na friagem
Do igapó
Anunciou
E a paisagem
Pretejou
Anoiteceu
Na cabeceira
Desceu do céu
A cabeleira
Um urutau
Trinou o seu canto mau
Anhangá
Vai te assombrar
Jurupari
Vai te engolir
Cururu
Vai te pegar
A anguêry
Contigo sumir
Chama o Pajé
Na vertigem
Do inhambé
Sai coisa ruim
Sai visagem
Sai de mim
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9. |
Última Tradição
04:21
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(Thiago Thiago de Mello)
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Eu sou aquele que ninguém queria ser
Mas não me incomodo se você não vê
Que minha alma está longe dos mercados
E que meus modos valem símbolos sagrados.
Não quero ser mais a última tradição
Nem o novo fetiche da modernidade.
Só que se respeite quando eu digo que não,
Que meu chão não é o que se pisa na cidade.
Sou antigo, e persigo ainda vivo
como lenda, que não deixa de fazer sentido.
Eu me procuro, mas perder-se é decisivo
Pois só se encontra quem um dia foi perdido.
A minha velha casa hoje é um museu
Que é lugar dos mais doídos desatinos
Mas pajé antigo, que nunca será seu,
Não deixa de ter um pra ter muitos destinos.
Quando o igarapé desemboca no igapó
Eu remo o casco e ele não me leva à esmo
A minha solidão nunca me deixou só
por isso quase sempre fui eu mesmo
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10. |
Que Nem Japiim
02:58
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(Edu Kneip/ Thiago T. de Mello)
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Quem não tem a própria voz
Vai imitar alguém
Pra desatar o não e os nós
Ir além
Se não se encontrar a sós
Nunca vai ser ninguém
OHomem será meroalgoz
e seu refém
Sempre vão lhe comparar
Com outro alguém
Quem não tem a própria luz
Às vezes fica sem
o brilho, apenas se transluz
Vive aquém
Quem a vida não conduz
A morte um dia vem
Perecerá na mesma cruz
Com seu desdém
Pra sempre permanecerá
Depois do Além
A natureza tem
Um bicho que traduz
O vaivém dos pássaros
O regonguz
O capitão do mato
As araras azuis
De peito estupefato
Ele tudo transmuz
Lá vem o japiim
O japiim-xexéu
Que zomba lá do céu
A caçoar de mim
Quem não tem o próprio som
Faz que nem japiim
Mas reverbera o que é bom
Diz que sim
Quem não tem o próprio dom
É meio assim, chinfrim
Canta fora do tom
Em mandarim
É melhor se transformar
Num beleguim
Quem não sabe onde é a foz
Ou o manancial
SóVive perdidono atroz do banal
Quem não nasce pra albatroz
Há de viver pardal
Mas se não for bichoferoz
Será mortal
Vão na certa lhe atirar
Num matagal
A natureza tem
Um bicho que traduz
O vaivém dos pássaros
O regonguz
O capitão do mato
As araras azuis
De peito estupefato
Ele tudo transmuz
Lá vem o japiim
O japiim-xexéu
Que zomba lá do céu
A caçoar de mim
Danado passarim
A caçoar de mim (maior zoeira!)
Num zumbido sem fim
Faz que nem japiim
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Thiago Thiago de Mello Rio De Janeiro, Brazil
Background photo:
Valdir Cruz
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Leblon – Rio de Janeiro – RJ
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